domingo, 3 de outubro de 2010

Primeiro machucado

Era meu primeiro dia de aula, em meus pensamentos era surreal ocorrer a separação da minha mãe. Fui deixado na porta da escola aos cuidados de uma desconhecida, alta e bela, mas ainda sim desconhecida. Alguns dos conceitos que minha mãe me ensinara não eram mais válidos a partir do momento em que fui deixado com uma estranha. Passar a viver em um mundo que não fosse meu quarto e meu videogame fazia meu cérebro entrar em conflito com minha idéia de vida. Eu não queria me separar de meu porto seguro, lágrimas escorriam pelos meu olhos, mas a mulher estava desinteressada no meu estado emocional. Consegui soltar as mãos que me prendiam feito algemas e corri em direção ao portão, mas um infortúnio aconteceu e caí, meu joelho estava arranhado e eu chorava, nunca tivera me machucado antes. As lágrimas molhavam meu rosto e ninguém parecia me ajudar, até que ela voltara, a desconhecida. Ela me dera a mão e fora assim que eu aprendi a me levantar.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Crônica da única felicidade

Alguns dias da semana eu me pegava perambulando pelos corredores da minha escola, e por algum motivo as pessoas me paravam para contar os detalhes de suas vidas. Alguns dias da semana as histórias que passavam pelos meus ouvidos eram ditas com uma emoção que me contagiava, e a pessoa que contava uma história assim, com tanta emoção, costumava dizer que teve sorte pelo fato concretizado. Outros dias da semana, essas mesmas pessoas voltavam a mim, só que dessa vez com detalhes de seu dia triste e muitas vezes por razões fúteis como não ter ganho o presente desejado no aniversário, ou simplesmente por não ter achado o controle remoto. Alguns dias da semana essas histórias eram mais tristes do que o normal, geralmente as lágrimas que escorriam pelo rosto do narrador vinham acompanhados de brigas familiares ou com o namorado, e no fim de cada semana eu me dava conta, de que na maioria das vezes elas se diziam "infelizes". Juntando os fatos, eu me peguei num dilema - na maioria das vezes, a felicidade dos narradores vinham da conquista de bens materiais, e sua suposta infelicidade tinha raízes nos problemas emocionais -. Acredito que no fim de cada dia, cada um volta para sua casa e tenta lidar com os problemas que carregam no dia-a-dia.
E no fim de tudo isso eu ainda não tivera a resposta que tanto procurava, o motivo dessas pessoas virem desabafar comigo. Mas a resposta era irrelevante, poderia ser simplesmente por me acharem confiável ou gostarem de mim. Porém, sua insegurança do incerto era tão grande que tinha medo de realizar alguns feitos - mas uma coisa que podemos ter certeza é que o tempo é inexorável -. Podemos temê-lo, mas não podemos escapar do mesmo. E finalmente a resposta estava mais próxima do que nunca, a insegurança dos jovens narradores fazia com que eles procurassem um porto seguro, seja em sua casa onde ninguém o perturba, ou se agarrando no ombro forte e agradável de um amigo. E para concluir minhas conclusões, a percepção de felicidade que cada um tinha de suas vidas eram muito limitadas ao que a sociedade tinha a lhes oferecer - no final de tudo, a diferença entre nós era justamente a idéia que possuímos- eles eram felizes todos os dias, mas não o dia inteiro todo dia, ao contrário de mim que via a felicidade não pelas minhas conquistas materiais ou perdas emocionais, e sim por estar aqui, vivo.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Refúgio

Estava limpando a poeira espacial que custava a se impregnar nos anéis de saturno, sim, eu era um faxineiro espacial. Apesar de parecer uma profissão muito interessante, muitos de vocês a achariam desgastante. 24 horas por dia perambulando os 4 cantos desse planeta monótono que não abriga 1 molécula de vida se quer. Eu trabalho aqui desde que me conheço por gente, e presenciei algumas das maiores e mais bonitas apresentações que o universo pode nos oferecer, e ainda assisti de camarote VIP, eu e eu mesmo. Mas fora isso, o meteoro de número 121 era diferente, o pequenino me chamara atenção. Era solitário e aparentemente sonhador igual a mim, não que ele tivesse cérebro e pensasse igual a nós, seres humanos, mas o coitado parecia procurar algo que nem ele sabia direito o que era, parecia que seu lugar não era alí. Pulei em cima do meteoro para fazer-lhe companhia. As vezes precisamos de uma válvula de escape, as vezes o silêncio é ensurdecedor.
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